De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), todas as etapas, desde o manejo até a exportação da carne de jacaré são realizadas nas instalações dentro da reserva. Este é o único local legalmente autorizado a desenvolver essas atividades em uma unidade de conservação.
O frigorífico foi desenvolvido dentro da reserva para manter o controle da espécies de forma sustentável e também incentivar o empreendedorismo coletivo dos moradores da comunidade, além de ajudar na segurança da comunidade, que convive com mais de 36 mil jacarés.
Como surgiu o projeto?
O projeto foi iniciado em 2004, após um acidente envolvendo um jacaré que resultou na morte de uma criança de seis anos que vivia na Resex. A partir disso, vários órgãos ambientais se uniram para desenvolver um projeto de aproveitamento do recursos naturais de forma sustentável e legalizada, de acordo com o ICMBio.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a nível nacional, passou a regulamentar o manejo de jacarés em Unidades de Conservação Federais.
Para tornar o projeto possível, foram feitos estudos populacionais, de reprodução e sobre os ninhos dos jacarés. Isso levou à definição de cotas de abate, garantindo o equilíbrio da cadeia alimentar e contribuindo para a segurança da comunidade.
De acordo com o ICMBio, a regulamentação envolver vários órgãos:
- ICMBio: responsável pelas licenças que determinam as atuais cotas de captura e abate de jacarés;
- Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Porto Velho (Semagric): realiza a inspeção sanitária;
- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA): fiscaliza e supervisiona o transporte de peles e carne até o destino final.
Abate no frigorífico
Os manejadores que trabalham no local recebem treinamento, principalmente em relação à captura, o que lhes permite adquirir um maior conhecimento sobre a espécie e desenvolver cuidados na interação com os animais também.
Implementação do manejo do jacaré na resex Lago do Cuniã, em Rondônia, se transforma em um produto fresco e pronto para ser consumido. — Foto: ICMBio Cuniã-Jacundá/Divulgação |
De acordo com o documento que regulariza o abate, a cota é de 900 jacarés machos com tamanho entre 1,60 m a 2,80 m. Além disso, a cota para abate anual, que começa após o mês de agosto, não pode ultrapassar de 70% para a espécie jacaré-açu e 30% para jacaretinga.
A carne é vendida em embalagem de identificação do frigorifico em seis tipos de cortes: coxa e sobrecoxa, filé da calda, filé do lombo, lombo, ponta da costela e isca, e pode ser encontrada em supermercados do estado.
Manejo do Jacaré na resex Lago do Cuniã, em Rondônia. — Foto: ICMBio Cuniã-Jacundá/Divulgação |
Em 2023, o frigorífico não abriu as portas devido a problemas internos na Cooperativa de Pescadores, Aquicultores, Agricultores e Extrativistas da Reserva Extrativista do Lago do Cuniã (COOPCUNIÃ), que é responsável pela execução e regularização do funcionamento do local.
Onde fica a Resex Lago Cuniã?
A Reserva Extrativista do Lago do Cuniã, criada em 1999, está localizada no município de Porto Velho e fica a cerca de 130 km da área urbana da cidade.
É uma unidade de conservação do governo federal de uso sustentável e constituída por famílias que dependem da pesca, agricultura, extrativismo dos produtos da floresta e manejo do jacaré.
RESEX fica localizada no baixo Madeira em Porto Velho (RO) — Foto: Acervo/ICMBio NGI Cuniã Jacundá |
De acordo com o censo feito pelo ICMBio, na Resex há o lago principal nomeado como Cuniã e em volta são cerca de 63 lagos com nome e localização.
Para chegar ao lago, é preciso descer o rio Madeira, sentido Amazonas. A certa altura, dobra-se a esquerda no igarapé Cuniã que dá acesso ao Cuniã.