Leitores
e leitoras da Pérola do Mamoré e do Berço do Mamoré, vejam que beleza: o rio Madeira é o resultado do encontro manso
e escorregadio das águas mornas do Mamoré com o Beni.
Ambos
nascem nas encostas fecundas dos Andes, serpenteiam paralelamente os vales
bolivianos e se encontram amorosamente em Vila Murtinho, onde ocorre a cópula e
o êxtase final.
Triunfalmente,
nasce o rio Madeira no útero fecundo da Amazônia, sob as bençãos da Igreja de
Santa Terezinha do Menino Jesus, e do olhar férreo, enferrujado, solitário e
esquecido da velha Estrada de Ferro Madeira Mamoré.
Leitores
e leitoras! Vamos às origens, aos povos
ancestrais que durante centenas de anos habitaram as margens desses três
majestosos rios que se abraçam e se fecundam em Vila Murtinho.
Vocês,
leitores e leitoras da Pérola do Mamoré e do Berço do Madeira, já comeram
Matrinchã?
É
um peixe muito parecido com a nossa saborosíssima jatuarana, um pouco menor,
com escamas brilhantes, e também delicioso.
Pois
então! Os povos ancestrais que habitavam às margens do Mamoré, o denominavam
“Mamuri”, que significa “Matrinchã”, um peixe muito comum na bacia do Mamoré.
Há
ainda a encantadora lenda que a palavra Mamoré significa, “Mãe dos Homens”.
Matrinchã ou Mãe dos Homens, são riquezas de uma ancestralidade que precisamos
resgatar e preservar.
Rio
Mamoré, rio Mamuri, rio Matrinchã ou Mãe dos Homens! Bonito né?
Beradeiros
e beradeiras da Pérola do Mamoré e do
Berço do Madeira! É preciso se agastar um pouco sobre o estudo da origem das
palavras (etimologia). Bem sabeis que a palavra tem poder, para o bem ou para o
mal.
Faça
a sua escolha com coragem! O rio Madeira
é corajoso, escolheu transpor corajosamente seu trecho encachoeirado de Vila
Murtinho a Porto Velho, e derramar-se mansamente pela planície Amazônica até o
abraço final nas águas profundas do
Amazonas.
Bom!
Deixemos o Madeira e vamos ao Beni. Vocês sabiam que o nome dado ao
Departamento do Beni (Bolívia), foi uma homenagem feita ao Rio Beni?
Beni,
palavra originária de uns dos dialetos dos povos que habitavam as suas margens
e que significa “Pradarias” (planícies).
Rio
Beni, “Rio das Padrarias”!
Vou
confessar-lhes beradeiros e beradeiras!
Vivo em permanente êxtase com as águas achocolatadas do Rio Madeira. Em
Vila Murtinho ela é mais achocolatada ainda, onde a borra e o aroma do cacau
“alimento dos deuses”, impregnam docilmente as pedras, madeiras, peixes, homens
e mulheres e as barrancas do rio.
Rio
Corajoso esse, né? Era assim que os
povos ancestrais que habitavam suas margens, assim o denominavam. Esses povos
lindamente o batizaram de “Caiari”: Rio Corajoso, rio que Treme ou rio da
Resolução.
O
nosso rio Madeira, volto a afirmar incansavelmente, nasce em Vila Murtinho. Foi
um presente que a Geografia nos legou, era o rio Corajoso desses povos
ancestrais que domesticaram o cacau, a mandioca, entre outras plantas que
verdejavam em suas férteis margens.
Vejam
beradeiros e beradeiras! Chegamos ao Gran Finale dessa crônica achocolatada,
com sabor de Matrinchã assada na folha de bananeiras que nascem nas pradarias
do Beni.
Beradeiros
e Beradeiras! Sejamos fortes e corajosos como o rio Madeira.
Bom
apetite!!
Simon
O. dos Santos – Cronista.